terça-feira, 30 de setembro de 2008

Teleologia

Mais uma entrada para o Dicionário de AA

Teleologia
Tradicionalmente a teleologia examina o propósito, finalidade ou função na natureza.
Por exemplo, os olhos das mais variadas espécies, por diferentes que sejam, têm a mesma função e o mesmo propósito de permitir a visão aos organismos, como o propósito, finalidade ou função do coração é bombear o sangue.
E dado a função do coração, podemos então fornecer a seguinte explicação teleológica: “Temos o coração para que bombeie o sangue”. Explicamos a existência do coração através de algo que aparentemente surge depois, o seu propósito ou finalidade, isto é, o bombear do sangue.

Por um lado, esta linguagem é natural e extensivamente usada na biologia, mas, por outro lado, falar de propósitos e funções remete-nos para uma intenção e para o ser que a teve, o que já não é assim tão natural em ciência, que normalmente trabalha com relações causais. Quando referimos os artefactos humanos e dizemos que servem para isto ou para aquilo, por exemplo, que o propósito dos travões é para travar e da faca para cortar, sabemos que assim é porque alguém assim quis e fez, adequando os meios aos fins. Exactamente o mesmo parece acontecer na natureza quando contemplamos a complexidade orgânica dos organismos, como no caso do olho e do coração, apelando assim a uma intencionalidade criativa por detrás da origem dos seres vivos.

Mas talvez o maior problema para aqueles que viam a biologia como necessitando de uma estrutura teórica científica era tanto o facto de a teleologia parecer ser incompatível com a explicação mecanicista das ciências físicas como a preocupação relacionada de que o uso das noções de propósito e causa finais se não fossem naturalizadas poderiam causar problemas devido à inversão do sentido normal da causalidade e ao facto de que o objectivo final que supostamente é a causa, poder não ser atingido.
Como pode o bombear do sangue explicar causalmente algo que surge anteriormente, o coração?
Não implica isto ir para trás no tempo e causar algo? Por causa desta dificuldade muitos julgaram que as explicações teleológicas não tinham lugar na ciência. O que significaria que a biologia, por exemplo, teria algo por explicar dado que usa sistematicamente explicações teleológicas. Contudo, com o advento das teorias de Darwin, muito destas ansiedades se dissiparam.

O que justifica o uso do pensamento teleológico em biologia, é-nos dito, não é o facto de os organismos serem o fim de uma vontade criadora; afinal de contas, o darwinismo mostra como os organismos podem ser melhor explicados recorrendo à selecção natural. O que justifica é o facto de os organismos estarem adaptados às condições de vida em que se encontram. É porque os organismos exibem adaptações que parecem ter sido criados com o fim de existirem nas condições em que se encontram. Se os organismos não exibissem adaptações, então não dariam a aparência de terem sido criados, mas também não teriam sido seleccionados. Mas porque foram seleccionados pelo mecanismo que Darwin propôs segue-se que exibem adaptação e consequentemente parece que foram criados.

O modo teleológico usado em biologia não deve ser tomado de uma forma literal, que é de facto impedido pela explicação darwinismo, mas sim como uma metáfora que abre pontos de partida para a investigação do mundo orgânico – metodologicamente, o uso do pensamento teleológico é rico. O uso da teleologia é justificado pelo simples facto de haver adaptação.

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