Quero aqui desenvolver um exemplo típico de uma experiência da Frankfurt (discuto algum do pano de fundo deste argumento aqui). Estas experiências têm como objectivo dar plausibilidade ao argumento contra o
Principio de Possibilidades Alternativas (PPA)
Para que uma pessoa seja moralmente responsável por fazer uma acção A é necessário que ela pudesse ter agido de outro modo.
O argumento de Frankfurt contra PPA baseia-se na ideia de que há certas circunstâncias, C, na qual uma pessoa executa uma dada acção tal que apesar de C tornar impossível que ela evite executar essa acção, não levam de nenhum modo a que ele a execute. Como C não tem qualquer papel no que o agente faz, ele teria agido exactamente da mesma forma caso C não se verificasse. Assim, o facto ele não poder agir de outra forma em nada é relevante para o que ele de facto fez, e portanto não pode desculpa-lo pelo o que ele fez. Assim, o agente é responsável e no entanto não poderia fazer de outro modo.
O que precisamos então é de uma experiencia mental, na qual
A) Existe uma circunstância C tal que o agente executa A e não poderia deixar de executar A
B) C em nada contribui para que o agente faça A
Passo então à descrição de tal experiência.
Imaginemos que Black, membro de uma poderosa associação criminosa, contrata Jones para matar o Presidente. Jones foi eficaz no passado e continua ser o melhor atirador que conhecem. Contudo, Black tem algumas razões para desconfiar da dedicação e lealdade de Jones neste momento – Constou que Jones quer abandonar a profissão. Mas Jones é tão valioso que Black quer ter a certeza. Assim, sem que este saiba, manda que os seus cientistas instalem no cérebro de Jones um dispositivo que vigie os estados cerebrais deste – um neuroscópio. Caso o neuroscópio dê alguma indicação de que Jones não vai matar o presidente, coisa que o neuroscópio consegue fazer com suprema precisão, este põe em acção um mecanismo que faz com que Jones decida e mate o presidente. Contudo Black não quer somente certificar-se que Jones mate o presidente, Black quer saber se Jones vai continuar ou não a trabalhar com eles no futuro. E nada diz isto melhor do que Jones decidir e matar por si só o presidente. Por isso, o dispositivo está de tal forma montado que se Jones não mostrar qualquer inclinação para não matar o presidente, o dispositivo não intervém, e tudo acontece como aconteceria se o neuroscópio lá não estivesse.
Suponhamos agora que Jones decide, por si só, baseado nas suas próprias razões, matar o presidente e de facto realiza este acto. Neste caso o dispositivo não entra em acção e tudo acontece como aconteceria se Black não tivesse pedido aos seus cientistas para monitorizarem Jones.
A moral parece ser a de que Jones agiu como agiria caso o dispositivo não tivesse sido implantado, e portanto pudesse ter agido de outro modo. E se é responsável num caso então também seria no outro, visto que a diferença entre os dois casos não mostra a sua mão.
Black e o seu neuroscópio oferecem uma circunstância na qual o agente age de certa forma, não poderia deixar de agir dessa forma, e no entanto as circunstâncias em nada contribuem para o modo como agente agiu.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
As Engenhosas Experiências de Frankfurt
Publicada por
Miguel Amen
à(s)
09:03
Etiquetas: Livre-arbítrio, Possibilidades Alternativas, Responsabilidade
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