segunda-feira, 1 de outubro de 2007

As Engenhosas Experiências de Frankfurt

Quero aqui desenvolver um exemplo típico de uma experiência da Frankfurt (discuto algum do pano de fundo deste argumento aqui). Estas experiências têm como objectivo dar plausibilidade ao argumento contra o

Principio de Possibilidades Alternativas (PPA)

Para que uma pessoa seja moralmente responsável por fazer uma acção A é necessário que ela pudesse ter agido de outro modo.

O argumento de Frankfurt contra PPA baseia-se na ideia de que há certas circunstâncias, C, na qual uma pessoa executa uma dada acção tal que apesar de C tornar impossível que ela evite executar essa acção, não levam de nenhum modo a que ele a execute. Como C não tem qualquer papel no que o agente faz, ele teria agido exactamente da mesma forma caso C não se verificasse. Assim, o facto ele não poder agir de outra forma em nada é relevante para o que ele de facto fez, e portanto não pode desculpa-lo pelo o que ele fez. Assim, o agente é responsável e no entanto não poderia fazer de outro modo.

O que precisamos então é de uma experiencia mental, na qual

A) Existe uma circunstância C tal que o agente executa A e não poderia deixar de executar A
B) C em nada contribui para que o agente faça A


Passo então à descrição de tal experiência.

Imaginemos que Black, membro de uma poderosa associação criminosa, contrata Jones para matar o Presidente. Jones foi eficaz no passado e continua ser o melhor atirador que conhecem. Contudo, Black tem algumas razões para desconfiar da dedicação e lealdade de Jones neste momento – Constou que Jones quer abandonar a profissão. Mas Jones é tão valioso que Black quer ter a certeza. Assim, sem que este saiba, manda que os seus cientistas instalem no cérebro de Jones um dispositivo que vigie os estados cerebrais deste – um neuroscópio. Caso o neuroscópio dê alguma indicação de que Jones não vai matar o presidente, coisa que o neuroscópio consegue fazer com suprema precisão, este põe em acção um mecanismo que faz com que Jones decida e mate o presidente. Contudo Black não quer somente certificar-se que Jones mate o presidente, Black quer saber se Jones vai continuar ou não a trabalhar com eles no futuro. E nada diz isto melhor do que Jones decidir e matar por si só o presidente. Por isso, o dispositivo está de tal forma montado que se Jones não mostrar qualquer inclinação para não matar o presidente, o dispositivo não intervém, e tudo acontece como aconteceria se o neuroscópio lá não estivesse.
Suponhamos agora que Jones decide, por si só, baseado nas suas próprias razões, matar o presidente e de facto realiza este acto. Neste caso o dispositivo não entra em acção e tudo acontece como aconteceria se Black não tivesse pedido aos seus cientistas para monitorizarem Jones.

A moral parece ser a de que Jones agiu como agiria caso o dispositivo não tivesse sido implantado, e portanto pudesse ter agido de outro modo. E se é responsável num caso então também seria no outro, visto que a diferença entre os dois casos não mostra a sua mão.

Black e o seu neuroscópio oferecem uma circunstância na qual o agente age de certa forma, não poderia deixar de agir dessa forma, e no entanto as circunstâncias em nada contribuem para o modo como agente agiu.

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