sexta-feira, 18 de julho de 2008

Liberdade e Controlo

Há toda uma tradição filosófica, que subscrevo, que defende que para haver responsabilidade moral tem de haver liberdade. E para haver liberdade tem de ser possível haver alternativas genuínas em aberto, em momentos importantes da vida de uma pessoa.

Dito isto, a discussão filosófica centra-se muitas vezes na questão sobre se há ou não possibilidades alternativas. O que sugere, talvez, que a satisfação desta condição para a liberdade e, consequentemente, para a responsabilidade moral seria, além de necessária, suficiente (supondo que se verifica certas condições epistémicas). O que não é o caso.

Não se pode confundir a liberdade de um agente com a existência das várias alternativas em aberto que esse agente podia seguir. O que falta aqui é a capacidade de o agente adoptar como sua uma dessas possibilidades. Afinal, a opção por um caminho não pode ser meramente aleatória. O agente tem de ter controlo sobre qual dos caminhos será o seu.

Quando pensamos em possibilidades alternativas, neste contexto, temos de ter sempre presente a noção de controlo, pois sem ela há algo que acontece, talvez em nós, que nos faz seguir um e não outro caminho, mas isto não será bem a liberdade. Pois esta não só pressupõe a possibilidade de haver mais do que um caminho mas também a ideia de que a escolha do caminho está sob o controlo e domínio do agente. Falar de controlo lembra-nos que falar de liberdade não é só falar de possibilidades, mas de possibilidades que adoptamos e que fazemos nossas.

Miguel Amen

1 comentário:

GUST99 disse...

Vim agora de férias e só agora tomo contacto com esta sua entrada .
Aproveito para dizer que sigo com bastante interesse o seu percurso discursivo .
Voltando ao texto , e pegando na sua frase "Afinal não pode ser meramente aleatória a opção de um caminho . O agente tem de ter controle sobre qual caminho faz seu ." , percebo que é nesta frase
que reside toda a confusão .
Não há opções de caminhos , o percurso de vida do agente ou aquilo que lhe foi acontecendo ao longo da vida , determinaram duma forma precisa uma aparelhagem bio psíquica que numa dada situação age de determinada maneira (não aleatória) .
Nem o agente nem quem está de fora podem caracterizar ou conhecer como funciona ou como é construída essa dita aparelhagem , pois é demasiado complicado , mas todos podemos perceber que há uma relação óbvia dos vários percursos de vida e da sua influência decisiva nos comportamentos do agente .
Cada um de nós não escolhe caminhos nem tão pouco percursos de vida , temos sim um modo muito próprio de responder a cada situação que se nos apresente de acordo com as idiossincrasias de cada um .
Se eu não estivesse a escrever usando o Word , ficariam patentes os erros ortográficos que eu obviamente não escolheria cometer , estavam por algum motivo presentes na minha cabeça junto com estas ideias e conceitos que não escolho mas que acontece por algum motivo estarem presentes neste momento .
Claro que ao ler , ou tomar conhecimento de novas ideias ou conceitos , as ideias que ontem manifestei poderão ser integradas ou reformuladas de novo e hoje apresentarem-se totalmente diferentes .
O “algoritmo” que processa os dados que me vão acontecendo não é da minha responsabilidade , não foi desenvolvido por “mim” e apenas se limita a funcionar .
Esse “algoritmo” a funcionar produz uma acção única de cada vez , constituindo o conjunto de todas essas acções um caminho .
O facto de esse algoritmo para funcionar recorrer a um conjunto de várias “ementas”que na realidade são partes desse mesmo algoritmo , não implica que haja uma “entidade “ que “escolha”os pratos .
Dito de outro modo , o processo de funcionamento desse algoritmo produziu o resultado x .
Perante isto que acabei de dizer , o que significa “O agente tem de ter controle sobre o caminho que faz seu” ?
GUSTAVO FERREIRA