sábado, 2 de fevereiro de 2008

A Ofa e o Formato das Conferências


Sábado passado fui à OFA. Foi uma experiência boa, e no modelo certo, à qual as conferências se deveriam aproximar. Há qualquer coisa de anacrónico no modelo actual das conferências, no qual o filósofo fala do seu trabalho pressupondo que o ouvinte não o conhece, e depois segue-se um período de discussão proporcionalmente muito curto ao tempo que falou. Talvez pré-internet não pudesse ser de outro modo. Mas hoje em dia não há qualquer razão para que os autores não coloquem disponíveis (ou os organizadores, como no caso da OFA) os textos, uns dias antes, para que os interessados os possam estudar. Penso que isto melhorava muito a experiência quer como autor quer como ouvinte e participante. Como autor, poderia esperar perguntas e toda uma discussão com um grau de sofisticação muito superior. Muitas das perguntas que se ouvem nas conferências são básicas, triviais, onde se quer perceber, muitas das vezes, pontos básicos da tese do autor, pontos esses que seriam óbvios na leitura do texto. Mas esta incompreensão é quase sempre condição suficiente para minar a discussão. Pressupondo a leitura do texto também se poderia aumentar muito do tempo de discussão (que é o mais interessante quando se tem o autor por perto) e diminuir aquele em que o autor apresenta o trabalho. Do ponto de vista do ouvinte isto seria um progresso significativo. Falando muito pessoalmente, sempre achei bastante aborrecido ouvir alguém ler (sim, ainda se lê muito nas conferências) sobre um tema que provavelmente não é a minha especialidade, durante 45 minutos. E mesmo que a apresentação seja boa, ideal, é quase sempre verdade que se o que se fala não é trivial, se contém um pouco de sofisticação, requer tempo e reflexão para que se possa aproveitar e perceber. Recordo-me de uma apresentação em Londres, uma das primeiras a que fui, em 2000 ou 2001, com os meus colegas de licenciatura, por D. H. Mellor, sobre filosofia do tempo, onde os t e os t’ abundavam, onde possivelmente ninguém realmente percebeu o que se estava a passar. Isso foi claro no grupo grande com quem fui e notou-se de sobremaneira nas perguntas. Para qualquer pessoa, 15 minutos de contacto com o texto anteriormente teria sido um progresso significativo, algo que penso que se generaliza.

Miguel Amen

1 comentário:

Renato Martins disse...

Caro Miguel:

É bom que alguem fale do pós-conferencias, que é algo que nao acontece muito por ca.

Essa forma de fazer conferencias (dar um abstract prévio) ja começa a dar os seus primeiros passos por ca.

seria preciso outras coisas: o desenho da Sara Bizarro para a OFA é disso ilustrativo: uma mesa redonda e pouca gente. As conferencias não precisam de salas gigantes com gente a dormir, mas sim pequenas salas com pouca gente mas interessada.

é bom que tenha corrido bem a oficina.

cumprimentos